Brasília – O caos no comércio internacional gerado pela forte alta no custo do frete aliada à grave escassez de contêineres somente deverá se normalizar no início do segundo semestre de 2022, quando os valores dos fretes e a cadeia logística já deverão estar estabilizados. A opinião é de Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza Importação e Exportação e especialista em comércio exterior e logística.
Ao projetar pelo menos dez meses para que o comércio internacional volte à normalidade, Fabio Pizzamiglio acredita que 2021 terá um Natal marcado pela falta de alguns dos produtos tradicionais para os festejos do final de ano e preços muito superiores àqueles praticados nos anos anteriores.
A percepção de Fábio Pizzamiglio vai de encontro à opinião de Cláudio Loureiro de Souza,diretor-executivo do Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave), que não considera a possibilidade da piora da crise e frisa que “há algumas semanas, havia uma forte preocupação de que os grandes congestionamentos dos portos chineses chegariam ao Brasil como um tsunami. Mas hoje a avaliação é que já aconteceu o que tinha que acontecer. A normalização será gradual, mas a crise deve durar até o segundo semestre de 2022”.
Segundo o diretor da Efficienza, “a expectativa é de que teremos um Natal com menos produtos e valores elevados. É preciso lembrar que os impostos de importação incidem também sobre o frete e por isso alguns produtos vão dobrar de preço, o que se deverá também ao fato de que a cotação do dólar, que continua elevada. A taxa cambial e os impostos incidentes sobre o frete se refletirão nos preços dos produtos natalinos”.
Ao analisar o momento atual do comércio exterior brasileiro, o especialista destaca que “o Brasil começou a sofrer com as importações com a valorização do dólar, no início da pandemia, e a partir dali o problema se agravou. Quando chegou 2021, pensávamos que a situação se normalizaria mas aconteceu o contrário. A retomada do comércio exterior nos países desenvolvidos aconteceu antes que no Brasil e isso acabou gerando um fluxo de contêineres muito mais forte. E esse grupo de países tem uma capacidade de absorver preços mais maiores (de contêineres e fretes), coisa que para nós é mais complicada”.
Fábio Pizzamiglio lembrou ainda que “nos meses de maio e junho, com o fechamento temporário do Canal de Suez, a política Covid-zero na China e, mais recentemente, em meados de agosto, com o fechamento de um terminal no porto chinês de Ningbo-Zhoushan, o problema se agravou ainda mais. É importante lembrar que esse posto, terceiro maior do mundo em embarques e segundo da China em movimentação de cargas, é maior que todo o fluxo do comércio exterior brasileiro. Esse conjunto de fatores se refletiu fortemente no comércio internacional e, consequentemente, no comércio exterior brasileiro”.
Diretor da Efficienza, uma empresa sediada em Caxias do Sul, criada há 25 anos, Fabio Pizzamiglio afirma que “sentimos o mercado voltando gradualmente, mas o processo é lento. Semana passada estava visitando um grande cliente nosso aqui em Curitiba. Ele tem volume de vendas e negócios mas, infelizmente, como toda a cadeia está atrasada, não há matéria-prima suficiente para suprir a sua indústria. Outro cliente nosso, em Caxias do Sul, uma encarroçadora de ônibus, enfrenta o mesmo problema. Teve que dar férias aos seus funcionários porque não consegue ter produção suficiente também devido à falta matéria-prima”.
Mas os problemas persistem, conforme Fábio Pizzamiglio sublinha: “as coisas começam a voltar à normalidade na China. Entretanto, o que há de disponibilidade de contêiner está indo para os mercados maiores, porque quem paga mais consegue mais. Temos o aumento dos preços dos contêineres mas os grandes mercados sofrem menos”.
Apesar de tudo, os efeitos dessa crise externa ainda não se refletem nos números do comércio exterior brasileiro e as exportações e importações seguem batendo recordes históricos.
Segundo o executivo da Efficienza, “o Brasil exporta em primeiro lugar minério de ferro, que não utiliza contêineres e com os graneleiros, usados nos embarques da soja, milho e outras commodities agrícolas, tudo funciona. Mas a gente vê que há um atraso. Embarques estavam acumulados e nós estamos recebendo agora cargas que já deveriam estar no Brasil há meses”.
Em sua análise, Fábio Pizzamiglio ressalta que “temos muitos clientes que buscam novos fornecedores no mercado nacional, ainda que a qualidade não seja tão grande, mas muitas vezes essas empresas têm que se sujeitar a fazer estoques, conviver com fretes que são o dobro e por vezes muito mais do que se pagava antes pois há casos em que o frete foi de US$ 1 mil para até US$ 15 mil. O momento atual ainda é difícil e não creio que o alívio venha antes do segundo semestre de 2022”.
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